Para encontrar respostas: faz as perguntas certas ao domínio certo

Vivemos num mundo complexo, multidimensional… e desejamos perceber-lo para conseguirmos navegá-lo.

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Mas existe uma tremenda confusão de ideias, teorias, conceitos… o debate e discussão parece não ter solução.

Neste artigo proponho-te uma abordagem para separar os diferentes domínios de atitudes ou crenças que, como seres humanos, temos sobre o mundo.

Podemos encontrar resposta às questões que a nossa mente coloca ao mundo que experienciamos.

4 Questões que colocamos ao mundo

Está na natureza da mente humana colocar questões:

Ao mundo que nos rodeia exigimos saber o porquê.

O que observo? O que posso saber sobre o mundo que me rodeia?

Como as estações do ano acontecem? Porque as árvores dão fruta no verão?

As respostas a estas questões remetem ao conhecimento científico.

Desejamos influenciar o nosso ambiente e perguntamo-nos:

Como o posso controlar? O que posso fazer para conhecer mais e melhor?

Que técnicas posso desenvolver para transformar o mundo à minha volta e satisfazer as minhas necessidades?

As soluções encontradas levam ao desenvolvimento da tecnologia.

Temos também a necessidade de justificar as nossas ações:

O que devo fazer? Como justifico as minhas ações?

E exigimos também justificação pelas ações dos outros:

O que fizeste e porquê? Estás justificado em fazer isso? É certo ou é errado?

Este raciocínio leva ao campo da Ética.

E temos necessidade de encontrar significado na nossa existência.

Em que posso ter esperança? O que é que dá sentido à minha existência? Qual é o sentido da vida, disto tudo à minha volta?…

A procura de respostas a estas questões levou desde o início da humanidade ao aparecimento da religião.


4 Domínios de crença / atitudes sobre o mundo

No início da nossa história era a função dos mitos explicar o mundo à nossa volta.

A mitologia criada pelo grupo, família, tribo, oferecia respostas a questões sobre o desconhecido.

Explicavam as forças da natureza, o porquê de certas coisas acontecerem da forma que aconteciam, ofereciam um sentimento de ordem e conforto num mundo desconhecido e em que estávamos à mercê das forças da natureza.

Serviam também para reforçar valores e crenças de uma cultura  - social e ofereciam orientação de como uma pessoa deveria vive

Com o aparecimento da agricultura há cerca de 10,000 anos, durante a Revolução Neolítica, começámos a descobrir formas eficientes de controlar a produção de alimentos.

A tecnologia começou a separar-se do mito. A metodologia da tecnologia é eficiência, independente das estórias contadas. Se alguma técnica resulta, é aceite pela simples razão que resulta e obtém resultados que satisfazem as nossas necessidades. Se não resulta não é repetida.

Separou-se do mito a tecnologia.

A tecnologia utiliza a informação que vem da ciência e desenvolve técnicas para atingir objetivos concretos. Mas como altera o mundo e as condições em que vivemos deve ter em consideração a ética.

Durante o primeiro milénio AC em várias civilizações começou a dar-se a separação da ética das religiões ritualísticas.

Começámos a decidir podemos colocar questões morais em que os deuses são irrelevantes, que podemos decidir o que está certo e o que está errado independentemente dos mitos e dos preceitos impostos pelos deuses.

O papel da ética é identificar valores, mostrar quais as possíveis consequências da violação desses valores e trazer-nos responsabilidade sobre as nossas ações.

Em vez de obedecer ao que as divindades ou oráculos dizem, somos convidados a assumir a responsabilidade sobre os nossos actos.

Surge também a noção que podemos utilizar um método sóbrio e investigação racional sobre o mundo à nossa volta mas a separação drástica da ciência, na civilização ocidental, ocorre após Galileu, com a revolução científica.

A ciência tornou-se uma disciplina autónoma, com metodologia própria e objetivos utilitários.

Mas no século XVIII, a ciência torna-se em muito mais do que um conjunto de tópicos a ser estudado. Para os pensadores do Iluminismo o método empírico pode ser aplicado a todos os aspetos da investigação humana, incluindo questões de moralidade e religião.

Origem da confusão mental

O problema que muitas vezes enfrentamos surge do momento em que qualquer domínio ou disciplina tenta ir além da sua capacidade de responder a questões, da utilidade da sua metodologia e faz alegações além da sua competência.

Com o exemplo da ciência, se esta afirma que a visão completa do mundo é obtida através da ciência e só há uma verdade: a verdade científica, percebemos que não é verdade, a ciência não responde a questões que legitimamente pertencem aos outros domínios.

A maioria dos conflitos que enfrentamos são conflitos sem sentido, têm origem em mal-entendidos, quando usamos os critérios de um domínio para outro.

Necessidade de separar os domínios

Em qualquer domínio, quando este vai além das sua competência, quando reivindica ir além do seu compromisso disciplinar e se tenta tornar uma disciplina global, gera confusão mental e reação negativa (backlash)

Cada domínio responde a questões diferentes, utiliza metodologias diferentes e faz alegações diferentes

A Ciência pode responder-te à questão Como funciona a Vida?

Como posso viver mais tempo e melhor? Provavelmente a tecnologia tem ferramentas para te ajudar.

A Ética deve acompanhar-nos sempre a ajudar-nos a colocar questões como: O que posso ou devo fazer? Ao fazê-lo estou a prejudicar ou a melhorar a vida dos outros à minha volta?

Mas não coloques a questão Qual é o sentido da Vida? à Ciência ou tecnologia ou sequer à ética. Se o termo Religião não te for confortável, coloca-a à Filosofia, conversa com os mestres do pensamento que nos deixaram vidas inteiras de reflexão nos textos que publicaram.

A sabedoria da integração

Para perceber e navegar o nosso mundo, a complexidade da nossa experiência, devemos ter a capacidade de recorrer aos vários domínios para responder às nossas questões, mas sem que estes se invadam.


Pessoalmente, aspiro a ter mesma capacidade de Carl Sagan quando afirmou “A Ciência não só é compatível com a Espiritualidade, é uma profunda fonte de espiritualidade”

“A ciência não é apenas compatível com a espiritualidade, é uma profunda fonte de espiritualidade.”


É necessário sensibilidade e sabedoria para saber separar e colocar a questão certa ao domínio certo, mas ao mesmo tempo integrar os diferentes domínios na nossa consciência.


Sê gentil contigo,

até breve.

 

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